quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Oito coisas que todo celíaco precisa saber





Raquel Benati
agosto de 2016

Como ainda existem poucos Profissionais de Saúde que realmente conhecem a Doença Celíaca no Brasil, o mais comum é encontrar Celíacos perdidos e com orientações ultrapassadas ou mesmo sem orientações. E nesse grupo estão tanto os que foram diagnosticados recentemente quanto aqueles que receberam o diagnóstico há anos.

Por isso é muito importante que os celíacos e seus familiares (quando se trata de crianças celíacas) estudem sempre e continuem buscando informações de boa qualidade para manutenção da saúde celíaca.

Deixo aqui uma lista de 8 coisas que todo celíaco precisa saber:

1 - Celíacos tem problemas de absorção por causa dos danos existentes nas vilosidades do intestino delgado: pelo menos no período logo após o diagnóstico alguns medicamentos devem ser usados na forma injetável, para garantir o efeito esperado. 
Exemplos: antibióticos, anticoncepcional, ferro, B12, analgésicos. Algumas vacinas também podem não ter a eficácia esperada. 

2 - É importante aprender técnicas de sobrevivência com o grupo de Mães de Crianças com Alergia Alimentar e entender o que são traços de proteínas e aplicá-las no cotidiano da dieta sem glúten. No caso da doença celíaca, os traços de glúten podem manter uma pessoa em constante estado de inflamação e danos nas vilosidades intestinais, mesmo que não se tenha sintomas gástricos aparentes. Então ler rótulos, evitar comer em locais onde há riscos de contaminação cruzada por glúten, lavar sempre as mãos durante o dia (evitando assim levar partículas de glúten encontradas no ambiente à boca), ligar para o SAC das empresas para se certificar da segurança nas informações nos rótulos, trocar informações com outros celíacos sobre produtos seguros, viajar levando alimentos seguros na bagagem e outras tantas estratégias são formas de manter a saúde e ficar longe de problemas.

3 - Dieta sem glúten não é sinônimo de dieta a base de farinhas sem glúten. Dieta sem Glúten tem como base hortaliças, frutas, leguminosas, raízes, ovos, laticínios, carnes, azeite, cereais sem glúten, oleaginosas, sementes. Portanto açúcar, amidos, féculas e farinhas refinadas devem ser usados com parcimônia e consciência, para que não haja alterações prejudiciais à saúde do celíaco. Ganho de peso, alterações nas taxas de glicose e hemoglobina glicada, colesterol e triglicerideos, transaminases e outros índices, podem ser decorrentes de uma dieta desequilibrada, mesmo que 100% sem glúten.




4 - Como o glúten é praticamente onipresente na Indústria Alimentícia Brasileira o risco de contaminação cruzada por glúten está sempre presente. Assim, o mais seguro é comer todos os dias 80% de alimentos in natura e apenas 20% de produtos que de alguma forma passaram pela indústria (arroz, feijão, café, laticínios, farinhas, temperos secos e qualquer outra coisa que tenha embalagem e rótulo e que não seja ultraprocessado*). Por que? Eles podem ter mínimas quantidades de traços de glúten (os testes existentes ainda não conseguem quantificar ZERO glúten e medem traços em amostras e não em todo o lote processado), que isoladamente não prejudicam o organismo do celíaco, mas que somados ao longo do dia com tudo aquilo que é ingerido, podem ser suficientes para ativar o ataque do sistema autoimune.

*Obs: alimentos ultraprocessados não devem fazer parte de qualquer dieta. Eles são excessões que usamos nos momentos onde o planejamento não foi possível (viagens, festas, atividades fora de casa, etc.).





Por isso é importante lembrar uma das regras de ouro da Doença Celíaca:  Não experimente mais de um  novo produto sem glúten por dia, para poder observar como seu organismo reage àqueles ingredientes e cuide da quantidade de produtos industrializados que consome diariamente.




5 - Muitos celíacos, sejam crianças, jovens, adultos ou idosos, podem ter problemas de baixa densidade mineral óssea. Precisam investigar se existe algum processo de osteopenia ou osteoporose, após o recebimento do diagnóstico de Doença Celíaca. É importante que sejam feitos exames para verificar a saúde dos ossos.

6 - Hoje a Nutrição usa L-glutamina, probióticos, prebióticos, simbióticos e alimentos funcionais para ajudar a curar mais rápido o intestino do celíaco, além de suplementar vitaminas e minerais. Busque a ajuda e orientação de um Nutricionista que conheça bem a doença celíaca logo após receber o seu diagnóstico, mesmo que seu gastroenterologista tenha dado as primeiras orientações sobre a dieta sem glúten. 

7-  Existe muita confusão sobre resultados dos exames feitos por celíacos, inclusive por parte dos profissionais de saúde.

a) Quando a pessoa vai fazer exames para DIAGNÓSTICO, onde vai investigar se tem doença celíaca:
- A pessoa precisa estar comendo glúten normalmente nos últimos meses (pelo menos 2 a 4 fatias de pão de forma por dia).
- Se os exames de sangue (sorologia) antiendomísio e/ou antitrasnglutaminase derem resultado REAGENTE, a pessoa será encaminhada para fazer uma endoscopia digestiva alta, com biópsia de duodeno.
- Se a biópsia apontar atrofia de vilosidades e aumento de linfócitos intraepiteliais, ela receberá o diagnóstico como celíaca.

b) Quando o celíaco vai fazer exames para ACOMPANHAMENTO, para saber se a sua dieta sem glúten está correta, se as vilosidades do intestino delgado ja foram restauradas e se o organismo  já voltou a absorver os nutrientes dos alimentos:
- tem que estar fazendo a dieta sem glúten.
- os exames de sangue (sorológicos) antiendomísio e antitransglutaminase devem dar resultado NÃO REAGENTE.
- a endoscopia com biópsia do duodeno deve mostrar vilosidades preservadas e números baixos de linfócitos intraepiteliais.

Esses resultados serão o  sinal de que a dieta está sendo feita de modo satisfatório.

Aqui é que vemos o equívoco: tem profissionais de saúde que ao verem o resultado negativo desses exames de ACOMPANHAMENTO, afirmam para o paciente que ele NÃO É CELÍACO!

Cuidado!  Entenda: 

Se o celíaco tirou o glúten da dieta, ele vai parar de produzir anticorpos contra o glúten, pois o "inimigo" não existe mais naquele organismo. Então, a tendência é o celíaco ZERAR esses anticorpos (antiendomísio e antitransglutaminase) e a mucosa intestinal se recuperar, mostrando vilosidades normais, quando faz a dieta sem glúten corretamente. É simples assim!

Como a DOENÇA CELÍACA é a ÚNICA doença autoimune onde se conhece o GATILHO para sua ativação, é aqui que muitos profissionais de saúde "comem mosca" pois esperam que os exames de anticorpos estejam sempre positivos, como em outras doenças autoimunes (como lupus ou artrite reumatoide por exemplo) e que a endoscopia mostre atrofia de vilosidades.  Eles estão desatualizados e generalizando o conhecimento sobre doença autoimune e resultado de exames.

8 - Nem tudo na vida do Celíaco é consequência da Doença Celíaca ou culpa do glúten. Celíacos também tem "virose", ficam resfriados, podem ter uma infecção intestinal ou ter sensibilidade a outro alimento ou aditivo químico, corantes, espessantes e conservantes.

O ideal é que estejamos sempre 100% sem glúten e assim podermos ter tranquilidade para observar e entender todos os momentos que  nossa Saúde esteja precisando de cuidados.


Raquel Benati (2016)